Livro: Flores de Condão

A morte da galinha
“A curiosidade mata!”

Um dia o Homem e a Menina foram passear na casa de um afilhado dele. Enquanto os dois conversavam, a filha mais velha do casal foi lavar uma galinha que tinha acabado de matar para a mãe fazer o almoço. Aonde a Menina chegava, virava atração turística. Os meninos-homens ficavam escondidos atrás dos arbustos para olhar vê-la, de longe; as mulheres e moças da casa largavam o que estavam fazendo e ficava em volta dela conversando com ela enquanto passavam as mãos em seus cabelos. Como a moça que ia lavar a galinha não queria perder a chance, convidou a Menina para ir junto, lavar a galinha com ela. A bica ficava um pouco afastada da casa então a Menina pediu para o Homem e foi. Quando chegaram lá, a moça começou a lavar a galinha e perguntou (para puxar conversa) para a Menina se ela sabia matar galinha e ela respondeu: “eu sei, mas papai não deixa”. “É porque você é muito menina ainda, quando virar moça como eu, ele vai deixar – esclareceu a moça”. A Menina, na ânsia de deixar de ser menina, quando ouviu aquilo, pensou que a moça tivesse uma fórmula mágica para fazer as pessoas crescerem e perguntou: “você sabe como é que a gente vira moça?” “Eu sei, mas se eu te contar, você não conta para ninguém que fui eu que te contei?” “A Menina, já com os olhos esbugalhados, pensando que ia dar um golpe na natureza, balançou a cabeça firmemente para confirmar que não contaria. Então a moça começou: “está vendo essa galinha? Quando eu a matei, aparei o sangue no coité, agora que já tem um tempinho, agora o sangue ficou com a forma do coité. Endureceu e não escorre mais. Está vendo?“Estou” – respondeu a Menina sem entender nada e a moça continuou: “pois é, um dia vai aparecer um sangue igual a esse na sua calcinha, por uns cinco dias. Quando isto acontecer você deixa de ser menina e vira mocinha, entendeu?”. A Menina não respondeu, ficou muda por uns instantes e depois perguntou: “e se cair?” “Se cair, você morre, e se contar para alguém que eu te disse isso, você morre também. Está vendo essa faca aqui? Ela não mata só galinha não, tá?”

A Menina saiu correndo, gritando e chorando de volta para seu pai. Não contou nada e não almoçou, só queria ficar perto dele. Como não disse nada, o Homem pensou que fosse sol na moleira. Depois do almoço, os dois foram embora e ao chegar em casa, ele fez um chá de funcho e deu para ela tomar. E ficou esperando a choradeira passar. O resto do dia não pode sair de casa. Graça Siqueira.

2 comentários:

Leitura nas Fábricas disse...

Gracinha,
Muito do sei aprendi com você... Agradeço por fazer parte de minha vida!
Com carinho,
Tico ou Teco?

Unknown disse...

Fátima


Parabéns, adorei tudo que li até o momento.
PaRABÉNS POR ACREDITAR EM SEUS SONHOS E REALIZÁ-LOS.
ABRAÇOS