quinta-feira, 25 de julho de 2013

História inventada

“Será que nem no Céu a gente manda na gente?”

Para defender uma tese criada por mim mesma de que todas as pessoas têm um histórico antes de chegar aqui na Terra e que pode ser contado de acordo com a vida que se vive, apresento lhes (do ponto de vista cristão), uma história hipotética e patética baseada na vida da Menina.
Antes de nascer, as pessoas vivem belas e folgadas no Céu, umas desfrutando das coisas boas, outras ensinando o que consideram importante para melhorar a essência do ser e outras aprendendo a ser gente, para não chegar aqui dando vexame e fazendo Deus passar vergonha. Mas tem gente que parece que tem espírito de porco e nem o Céu está bom para elas. Era o caso da Menina. Ela achava que no Paraíso tinha regras demais, silêncio demais e bondade demais! E desde que chegou lá, tinha vontade de virar tudo de cabeça para baixo, mas não podia. Então, desde que passou a morar lá ficou sem ter o que fazer, e isto a desmotivou. Conhecer o inferno podia até ser uma boa, pensava ela, mas faltava coragem, visto que o Diabo vivia campeando almas e tinha fama de gostar de carne fresca. Então, num belo dia, decidiu que ia voltar para a Terra. Por aí já se pode ver que era uma besta! Se no Céu ela não podia fazer o que queria, aqui é que ela ia conseguir? Pois bem, para voltar ela precisava de autorização. Pelos trâmites legais, ia demorar uma eternidade tendo em conta seu crescimento pessoal. Claro que, estando onde estava não ia poder contar com a possibilidade de uma falsificação de documentos ou apadrinhamento político. Sem plano A ou B, resolveu ir pelo caminho mais óbvio e também o único. Resolveu que ia procurar Deus para conversar a respeito. Só tinha um problema, Deus não era uma figura carimbada que aparecia toda vez que era invocado, procurado ou perseguido. Estava sempre muito ocupado e para dar conta dos afazeres, levando em conta a extensa geografia do universo, cada dia morava num lugar. Sem agenda prévia, muitos nunca sabiam onde Ele estava. E deve ser por isto que alguns até duvidavam de Sua existência. Ele tanto podia estar no norte, como no sul; morando num palácio ou numa cabana. Na realidade, o que fazia o endereço de Deus ser reconhecido era o símbolo da cruz, nada mais. Sempre que chegava num lugar, a primeira coisa que fazia era fincar a cruz no chão (aqui para nós, tenho para mim que Ele também não suportava rotina de espécie alguma). E a Menina, crua de tudo e sem a menor noção de direção, enquanto Deus estava de um lado, ela estava do outro. Mas, se aqui na Terra, quem tem padrinho não morre pagão, no Céu também não é diferente. A sorte é que ela sempre teve algo a favor de si: a imaginação. Daí a concluir como encontrar Deus foi um pulo! Não era segredo para ninguém que Deus batia o ponto nas horas mais iluminadas do dia, em casa de Sua mãe. Nossa Senhora morava confortavelmente num chalé de cristais azuis e em volta havia um jardim de flores pintadas a mão. Além disso, a santa tomava banho de cheiro, chá de flores no inverno e suco de melancia no verão, sempre à mesma hora do dia. Os anjos de fora colhiam as flores e os de dentro preparavam o banho e serviam o chá ou o suco, conforme a época; depois tocavam harpa enquanto Mãe e Filho conversavam. Embora Deus fosse adulto e dono do nariz Dele, por medida de aproximação familiar, tinha como obrigação cumprir o protocolo e Se apresentar a estas cerimônias quando estava livre. A Menina, devota fiel, toda vez que se sentia perdida recorria aos poderes da Mãe. Assim sendo, conhecia bem o chalé de cristal azul e resolveu que ia esperar o Criador, todos os dias, na entrada do jardim. Tarefa difícil! Ele, sabendo de antemão o que se passava com ela, quando a via, apressava os passos e passava tão rápido que nem tomava conhecimento de sua presença. O querubim, acompanhante de Deus, não entrava no chalé, ficava do lado de fora. Depois de algum tempo, enquanto esperava, ficou intrigado com a presença contínua daquela lombriga esticada na entrada do jardim e resolveu se aproximar para indagar sobre a situação. Ele, como sentinela, tinha essa obrigação. Ela contou o que pretendia e ele resolveu ajudá-la. Como não tinha poderes para resolver o assunto em questão, pediu a ela para escrever uma carta especificando e justificando seu pedido e prometeu que ia entregar em Mãos. Assim foi feito. Mas, muitos dias se passaram e nada aconteceu. Não se soube como, Nossa Senhora ficou sabendo do ocorrido. E, como sempre, se propôs a ajudar sem que a necessitada soubesse. E para facilitar, quando a Menina estava muito distante de Deus, a santa, sem querer se meter diretamente nos assuntos divinos, dizia a seu filho que estava precisando sair um pouco, fazer caminhada para combater o sedentarismo e que por algum tempo preferia visitá-Lo. E foi seguindo Nossa Senhora que a Menina sempre encontrava o paradeiro de Deus. Nos dias que Ele saia de casa, ela ficava em frente a cruz, esperando. Quando Ele chegava (porque Deus sempre volta para casa), lá estava ela; parecia o cão de Ulisses, não arredava o pé. Ele, sem tempo para assuntos banais, passava batido. Às vezes ela só sentia o vento da passagem resfriando sua cara. Num dia desses, Nossa Senhora chegou e dois minutos depois, saiu. A Menina estranhou porque não tinha dado tempo nem de tomar um gole de nada, o que teria acontecido? Então ela tomou coragem e bateu na porta, quem abriu foi o mesmo querubim que ficou de entregar a carta. Ele disse que, de sua parte, tudo foi feito conforme prometera. Ela ouviu e insistiu para falar pessoalmente com o Patrão dele. Mas Deus não se encontrava, teve que atender um chamado de urgência para resolver uma pinimba na Terra, (disciplinar o advogado do diabo). E assim o tempo foi passando. Mas, um dia, devido à insistência, a teimosa decidiu tomar uma atitude mais drástica e quando viu que Deus estava Se aproximando, pulou na frente Dele. Naquele dia Deus estava de saco cheio e quando olhou para ela, parada ali na sua frente que nem um dois de paus, teve que parar também. Muda de tanto medo, sua voz não saia. Percebendo a situação embaraçosa, Deus se apoiou no cajado e ficou serenamente esperando. E nada. Então, a providência divina adiantou os fatos: Ele perguntou o que ela queria e ela respondeu. Deus até teve vontade de dar umas cajadadas nela, mas como Pai Supremo sabia que não ficava bem, então respirou fundo, contou até três, juntou o resto de paciência que ainda tinha e disse: “Filha, você não pode ir agora, ainda está no jardim de infância, tem que aprender a ser gente primeiro. Quando chegar a hora, você vai... Boa noite e até daqui a muito tempo”. Ele virou as costas e ela foi atrás tentando argumentar. Dizia que não aguentava mais aquela monotonia, que todo dia era a mesma coisa, que nada mudava, etc, etc... Mesmo estando Deus cansado, com fome, com sede e sono, fez das tripas o coração para dar atenção: “Olha, você viu o que aconteceu da última vez, você chegou aqui antes do tempo combinado e isso é grave! Não seja precipitada, não vai por tudo a perder agora.” Mas, ela continuou insistindo. Quando viu que Deus não cedia, apelou: “Se o Senhor não autorizar, eu vou pular lá embaixo, por minha conta!” Aí Deus ficou furioso! “Ah, é? Você está pensando o quê? Que essa passagem virou bueiro, que qualquer animal sobe e desse na hora que quer? Pois se enganou meu bem, seja de lá para cá ou daqui para lá, quem manda no pedaço sou Eu! Mas, tudo bem, você que ir? Então vá! Mas, não chegue aqui antes do tempo. E nunca! Eu disse nunca abra a boca para reclamar de nada. Depois não diga que Eu não te avisei, ouviu?”. Dito isto, pá! Sentou o pé na bunda dela. E foi assim que a esperta caiu nessa esparrela. Quando chegou aqui, teve tanto medo que passou onze dias sem fazer xixi. Do livro: Um cheiro de flor.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A ré do tempo

Quem disse que o tempo não volta?

(Diário de um dia planejado - por horas).
Às sete e meia você acorda.
Às oito, toma banho.
Às nove vai tomar café.
Às 10, tem médico (marcado há dias)
Às doze, o almoço.
 
Das doze e trinta às treze, uma caminhada para aliviar o corpo porque às catorze já  tem um compromisso assumido.

À tarde vai chegar em casa, tomar aquele café, deitar um pouco para dormir, ou ver TV, ou entrar na internet, quem sabe? Depois de mais ou menos uma hora, pretende tomar banho e comer algo.

À noite, tem novela, internet (talvez), filme e cama.

E lá se foi mais um dia.

Mas...

Ré-(tomando – tornando – lembrando).

Seu dia (re) planejado – por horas.
Às sete e meia, acorda.
Às oito, toma banho.
Às nove, toma café.

Às nove e quinze o telefone toca e você atende.
Do outro lado da linha uma voz (de alguém que você ama) pergunta: está em casa? Surpresa, você responde: sim e você, onde está? Então a pessoa diz: eu estou aqui fora, no portão da sua casa. E sem acreditar, você pergunta: aqui????????????????????????
E, corre feliz da vida para abrir a porta. Abraços, beijos e outro café. Então a pessoa te vê toda arrumadinha e pergunta: vai sair? Você responde, vou. Tenho uma consulta marcada. Aí ela diz com voz doce: vou te levar. Você não quer atrapalhar a vida daquela pessoa e imediatamente responde: não precisa. Mas a pessoa insiste e você está tão feliz por vê-la inesperadamente, que aceita. No caminho ela pergunta: onde é a consulta, mas você não quer tirá-la da rotina porque sabe que é uma pessoa ocupadíssima e diz: pode me deixar em qualquer lugar, tenho tempo para chegar, não se preocupe; siga seu caminho independente de mim. Ela podia ter te deixado em qualquer lugar, mas te deixa num determinado ponto, próximo ao consultório. Você só precisa atravessar a rua.

Porém, antes de atravessar a rua, é preciso olhar para o farol. E, nessa hora, de longe alguem grita: “AH! SABIA QUE UM DIA EU IA TE ENCONTRAR!”

Você olha para frente e tem outra surpresa. Alguém que você sabe que conhece, mas não se lembra de onde e nem quem é, está à sua frente... A pessoa te olha com tamanha satisfação que seu arquivo da memória se abre de imediato. E mais uma história se (re)desenha em mais abraços de pura felicidade. E você (re) vive um tempo que havia passado:

O tempo que você podia ver seu filho pela manhã.
O tempo que você tinha certeza que tudo ia dar certo porque vocês estavam juntos.
O tempo que você era abraçada e beijada sem esperar.
O tempo que um amigo já esquecido, perdido (no tempo), te encontra repentinamente e te diz que ainda esperava por você...
 As horas que se seguem acontecem no mesmo percurso, mas não mais do mesmo jeito que foram planejadas. Depois de receber dois presentes num dia só, eu não era mais a mesma de antes... E nem podia!
Malva Maria

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Jane Austen




-OH, querida! Espero que não vais fazer mais bodas nem mais predições, porque tudo o que você diz sempre termina ocorrendo. Por favor, não faça nenhuma bodas mais.
Jane Austen é uma das minhas autoras preferidas.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

sábado, 26 de maio de 2012

Beijos na Lua


"Um dia recordarei de ti olhando para mim. Tens um olhar leve como um brisa provocada por asas de borboletas quando estão beijando as flores, no jardim. Antes que o tempo do esquecimento roube de ti nossos momentos, também tu te lembrarás de mim porque nossas almas e nossos corações ainda estarão unidos pela saudade. Então basta que olhe para a lua, lá encontrarás muitos beijos meus. Toda vez que olho para a lua, lembro-me de nós e deposito um beijo para ti. Eles sempre estarão lá só para você, pelo resto de sua vida".

domingo, 20 de maio de 2012

Agora SIM!

"Meu mapa da felicidade é desenhado a lápis cor-de-rosa com uma borracha na ponta"

domingo, 19 de junho de 2011

A TEORIA DA SALVAÇÃO


Partindo do princípio que todo cristão tem como objetivo final ver Deus,
esta é a ‘Teoria da Salvação’.

Você faz tudo certo aqui na terra na intenção de ir para o Céu e ver Deus. Então, você morre e a primeira coisa que faz é pegar o caminho do Céu, rumo à vida eterna, só que na pressa, você pega um atalho e vai parar na porta dos fundos. Todo desconfiado, você bate na porta e o Anjos da Guarda aparecem para te receber transbordando alegria. Eles te abraçam, te beijam, dão boas vindas na intenção de fazer com que você se sinta bem; contam as novidades, te instala num chalé confortável com um lindo jardim na frente e uma límpida cascata ao fundo; te dizem que dali há sete dias você terá um encontro muito importante (e você idiota que é, já pensa que vai ver Deus).
Durante cinco dias você come o manjar dos deuses, dorme o sono dos justos e.... E o tempo passa. Chega o sexto dia: ‘o dia da reparação’. Você é acordado pelo seu Santo Protetor. É isso mesmo, aquele Santo que você encheu o saco toda vez que esteve em apuros, é ele quem vai lavar a sua alma. No quarto de banho há uma enorme banheira, cheia com o leite que você mamou na sua mãe, quando nasceu - se por acaso você não teve essa chance, não se preocupe que você não será esfregado a seco. No Céu existem muitas reservas de leite de mãe e o seu Santo Protetor vai completar o que falta, é para isso que eles servem (também). Conforme a cor da sua alma, o banho pode durar horas. Se tiver que limpar orgulho, inveja, ira e coisas do tipo junto com poluição externa como esmalte, tinta de cabelo, nicotina, cheiro de álcool, essas coisas que são feitas em nome da vaidade e da auto-destruição, você vai ter que ficar de molho quase o dia todo e aí você corre o risco de sair do banho com a alma pelada - o que pode não ser muito bom para a sua reputação visto que, esse estado de alma pode causar algum constrangimento e até mesmo repugnância. Depois do banho seu Santo te veste uma túnica branca e leve; penteia seus cabelos, escova seus dentes (isto se você ainda tiver cabelo e dente), te beija na testa e canta até você dormir. Depois que você dorme, ele passa uma borracha no seu cérebro, te deixa zerado e vai embora. No outro dia você acorda, mas não se lembra de nada, nem mesmo que tinha um Santo Protetor. Você levanta que nem barata tonta e caminha em direção ao jardim. Lá está o Anjo da Anunciação, sentado numa cadeira de balanço, toda enfeitada de flores, à sua espera. É ele quem vai te conduzir ao lugar para aonde você deve ir. Em pouco tempo vocês chegam a um grande teatro. Na entrada, do lado de fora você lê, em letras grandes e luminosas: GRAN FINALE, embaixo, em letras bem minúsculas e sem nenhum brilho, está escrito o seu nome. Lá dentro, no centro do palco há uma cadeira dura, sem braços e encosto, cujo objetivo é te deixar o menos relaxado possível. Na platéia estão todas as pessoas que de algum modo passaram pela sua vida, até mesmo aquelas que você jura que nunca viu, mas que, numa multidão qualquer, por um motivo qualquer, colocou os olhos em você mesmo que por uma única vez. Você não vê ninguém. Eles estão no escuro propositalmente enquanto que você está na luz justamente para que todos vejam a sua cara que, conforme foi a sua vida pode ser de pau, de palhaço, de otário, de besta; de qualquer coisa, menos de santo, é claro! Ao soar as trombetas, o Anjo de voz doce e suave, te anuncia. Da platéia não se ouve nada. Depois que você senta, sai de trás das cortinas a Justiça carregando O Livro da Vida, coloca-o em cima de uma mesinha que está ao lado da sua cadeira (para o caso de você querer renegar o passado), se senta na primeira fila, bem à sua frente e aperta o controle remoto. Um telão se abre exibindo paisagens dos lugares por onde você andou, junto com a trilha sonora de sua preferência. As cenas começam com o primeiro encontro de seus pais e vão transcorrendo sucessivamente até a sua morte para mostrar o que você fez e o que fizeram a você - tudo anotado no livro. Ao término da exibição, somam-se os pontos e lidera o que tiver maior saldo: se foram os positivos, você fica no lucro; se foram os negativos, você vai ter que correr atrás do prejuízo. Depois da ficha corrida, você foi informado que, apesar de tudo, ficou no vermelho. Em débito, terá que encontrar todas aquelas pessoas com as quais está em dívida, menos as que entraram pela porta da frente, essas foram direto para o Céu e já te perdoou. As outras que se arrependeram, estão fazendo a parte delas: as Ovelhas Desgarradas foram incumbidas de arrancar a lã das Ovelhas Negras, durante a noite, para tecer casaquinhos para as criancinhas que morreram de frio; as Ovelhas Negras estão em liberdade vigiada e prestam serviço durante o dia, na casa do Chifrudo, enquanto resistirem à tentação; as Almas Penadas estão vomitando no Purgatório e ainda não estão em condições de trabalho e as Perdidas, como o próprio nome diz, estão perdidas. E adivinha onde? Isso mesmo, no inferno, porque também não eram boas biscas. Para obter o perdão, terá que ir a cada lugar desses e encontrá-las. Para encontrar as Desgarradas, é só comparecer todas as manhãs na hora da Ave-Maria; para encontrar as Almas Penadas você pode contar com os amigos (se você não tem e ainda não morreu, está em tempo); para encontrar as Ovelhas Negras, pode levar seu melhor amigo (aquele que dizia que dava o sangue por você), mas para encontrar as Almas Perdidas, você só poderá contar com uma pessoa: sua mãe (se ela ainda estiver viva, terá que esperar). Se por acaso sua mãe for daquelas que não liga para os filhos, não se desespere. No Céu há sempre uma alma boa que irá oferecer a dela que, com sorte, pode ser melhor que a sua. Embora a necessidade te obrigue a fazer coisas que nunca pensou que faria, seu tempo será determinado. Você terá setenta e seis dias para voltar do inferno, se completar setenta e sete, todos os caminhos desaparecerão e você estará perdido para sempre. Na trajetória todo cuidado é pouco, nesse momento, você estará entre a cruz e a caldeira.

Coragem! Sabe aquela história que o inferno é na terra? Não caia nessa! Ele existe, é um buraco negro, cheio de fornalhas ardentes, feito para cozinhar os pecadores ao som metaleiro dos adolescentes rebeldes que habitam por lá! Quem atiça o fogo são criaturas com chifres e rabos peludos que - com anos de experiências e já diplomadas em suas tarefas - viraram Demônios. O caminho é uma longa pinguela de ferro em alta temperatura para queimar seus pés e o corrimão é feito de gelo seco com fumaça que cheira a enxofre. Sua companhia, temendo por sua alma, te impede de desistir toda vez que você tenta. Com muita dificuldade, você chega. Na entrada, ninguém aparece para te receber e nem para te instruir nessa empreitada (o que é ótimo, dadas às circunstâncias). A lei que rege o inferno é a Lei do CÃO e você, meu amigo, para encontrar o inimigo, vai ter que rebolar! O Diabo, PhD em trapaças, quando fica sabendo do fato, faz várias cópias de quem você procura, esconde a original e espalha as outras em pontos estratégicos só para te enganar. Com isso sua missão se torna, praticamente impossível. Em meio a tanta agonia, sua companhia também são seus olhos, ela teme pelo tempo e começa a refletir sobre o sentido de sua busca e então resolve examinar de perto, todas as cópias e descobre que o Diabo deixou rabo. Apesar dele ter tentado, não conseguiu fazer cópias autênticas, nenhuma delas possuía um coração. Mediante descoberta, ela decide examinar você e descobre que seu coração está em estado de Graça: é leve, limpo e livre de todo e qualquer sentimento de maldade. Nessas condições, ela conclui que seu caminho pode ser outro. Então, te puxa pela mão e, juntos, saem correndo. Chegam ao Céu bem na hora da: ALELUIA! ALELUIA! ALELUIA! Em meio a oração, você se perde da mãe e novamente aparece o Anjo da Anunciação, dessa vez sem anuncio. Nada te é prometido ou oferecido. Ele te leva para o mesmo chalé, te deixa lá, dando a entender que tudo voltou à estaca zero. O tempo vai passando e nada acontece então você pensa que foi abandonado, entra em desespero e começa a perder o que tem de mais sagrado: a fé. E, à medida em que sua fé vai sumindo, sua consciência vai aparecendo e conseqüentemente, você vai se enfraquecendo (caminhando para a morte eterna). Sem força de vontade dentro de si, não reage e agoniza na amargura de ter perdido a chance pela qual tanto lutou. Prestes a perder também a esperança, levianamente, você olha pela janela para ver como está o tempo e leva um susto daqueles! Lá fora, no jardim, está Nossa Senhora, sentada na cadeira de balanço enfeitada de flores, esperando por você! Você se aproxima em passos lentos e descobre que Deus havia lhe enviado a SUA PRÓPRIA MÃE para te acompanhar na sua mais difícil missão. ELA olha para você, te abraça e sorri com o sorriso mais encantador que você já viu. E assim você entende que seu tempo agora é outro, sua alma está salva, seu caminho está livre. ELA te pega pela mão e caminha junto com você na direção do infinito. Por conta da volta da consciência fora do tempo, ainda há em você um resquício de memória da vida terrena; aborrecido, reclama que ainda não viu Deus.
Então... Ela abre a Agenda Sagrada, marca um horário, te dá aula de etiqueta, molha o dedo no cuspe para limpar sua remela, ajeita sua sobrancelha, te coloca na mão o endereço e te avisa: filho, esse caminho você vai ter que fazer sozinho! Boa sorte!
                                                                                                           Malva Maria.

sábado, 21 de maio de 2011

Livro: Flores de Condão

Terminei de escrever meu primeiro livro mas, ainda sem publicação. Para situá-los no contexto, posto esse texto.
                       Ensaio lúgubre
(Muito prazer, eu sou... assim)

No inicio era a oralidade... As histórias eram contadas. A minha, oferecida! Sempre que as apresentações iam além do muito prazer, eu me apresentava, em capítulos, aos canteiros - por falta de tempo. Era assim, muito intimamente, que as pessoas passavam a me conhecer: através da minha história! Quem me ouvia, perguntava: “por que você não escreve um livro?” Mesmo depois de muito tempo, quando me encontravam novamente, faziam a mesma pergunta. Até que eu, que sempre almejei ser escritora, decidi que ia SER. Por algum tempo exercitei o ofício, escrevi e joguei fora. Às vezes resolvia que ia dar um rumo certo para a minha escrita, mas quando ficava insatisfeita, dizia para mim mesma que não era capaz e pegava tudo, rasgava e jogava no lixo. Depois de muito tempo, entendi que o que eu jogava eram apenas os papéis. Minha história continuava dentro de mim e se expandia cada vez mais. Conclusão (óbvia!): minha história sou eu. E eu não posso me livrar de mim mesma. Para chegar aonde eu queria (me convencer que era capaz), minha mente passou a escrever por conta própria. Escrever, ler, criticar, descobrir, inventar, refazer e mutilar. Involuntariamente, descontroladamente, repetidamente. Se antes eu tinha na cabeça uma caverna cheia de desenhos rupestres, agora ela estava inteira, ocupada por páginas e páginas impressas de mim mesma. Quando resolvi parar para esticar a memória, reconheci os sintomas da loucura, mas era tarde. Já havia caído no vício. E novamente, tudo recomeçou. Até que não consegui mais parar por nada. Meus pensamentos, multiplicados em milhões de mega pixels, me torturaram até se tornarem maiores do que eu. Foi um transtorno descobrir que eu não mandava mais em mim. Depois de muito relutar em tornar minha história concreta, aconteceu o que eu menos esperava: meu cérebro transbordou. Corpo e mente não se davam mais; perdi o controle e entrei em colapso. Meu sistema não comportava mais tantos traços e rabiscos; tantas palavras e idéias; tantos tropeços e correntezas; faltava espaço. Foi quando recebi um alerta de vírus, com efeitos colaterais: mal-estar súbito com ânsia sem vômito. Parecia que eu havia engolido um pássaro com asas e toda vez que ele batia as asas para voar, eu impedia engolindo-o novamente. Minha mente dizia: voe! Meu corpo dizia: não posso! Então, fiz o que acreditei ser possível: ignorei os limites e descartei as necessidades. Mas, meu orgulho próprio sempre fora exacerbado e o desejo de me salvar foi mais forte que a vontade de me abandonar. Quando cheguei ao ponto máximo das minhas forças, resolvi me passar a limpo e me programar de novo. Munida de uma intuição lógica (e patológica), juntei alma e coração para me derramar até fluir todo o meu SER. Eu sabia que se enfiasse o dedo na garganta, ia vomitar até morrer de fraqueza. Então, sucumbi o corpo à mente; ele sofre, mas ela não sente. E, ao invés de vomitar, eu deixei o pássaro voar...

Nesta história um escritor é ameaçado de morte e tem que escrever um livro. Forçado, ele aceita, mas se exclui de qualquer responsabilidade. Da mesma forma que ele, quem o ameaça, também está com seus dias contados. Ambos sonham com a fama, mas um ainda nem começou a carreira e o outro já chegou ao fim. Por falta de coragem, o escritor cuja identidade é quase desconhecida, permanece no anonimato e em seu lugar, uma personagem se expõe e encara qualquer desafio. Acontece que os problemas são reais, como personagem não é gente, ela não pode assumir nada. Eles não se dão bem, mas entram num acordo para realizar a tarefa juntos, como última tentativa sobrevivência.

Em respeito aos leitores, por quem nutro considerável admiração, eu não queria ser mais uma pessoa que escreveu um livro. Se literatura é arte (e sabemos que é), penso que ninguém tem o direito de escrever por escrever. Então, o que fiz foi relatar o que aconteceria comigo, caso eu quisesse ser escritora. Isso pode lhes parecer estranho, mas entenderão quando estiverem lendo o que escrevi. Quanto ao título, não foi escolhido ao acaso, ocorreram-me vários outros, porém nenhum foi suficiente para definir com fidelidade meus desejos e minhas fantasias. Cada episódio é um canteiro de sementes encubadas, esperando o tempo certo para desabrochar em flores. Potencialmente, cada flor contém uma realidade fantástica ou uma fantasia real, você decide. Mas, não se esqueçam que cada história é quase uma mágica na escala de sobrevivência. Contudo, não há nem bandido, nem herói, nem príncipe, nem rei, nem bruxa, nem fada. Junto com o título, o contexto é apresentado numa linguagem mista de identidades variadas que entremeiam os séculos dezenove e vinte. O escritor (personagem) e a narradora (personagem) são antagônicos; lutam juntos, mas permanecem separados. Além deles, existem outras personagens de almas nuas, viciadas e dependentes, cada uma a seu modo, mas com características bem humanas. Elas se expõem, desafiam, mexem, incomodam, inibem, intimidam, absolvem e concebem com mentiras, invenções e enganação de acordo com a verdade que conhecem; na esperança de serem vistas por quem quiser olhar. Todas vivem em controvérsia num mundo irônico e equivocado; enredadas pelo destino, se sobrepõem ao passado e ao presente para abrir possibilidades (imaginárias) no futuro. Suas atitudes e conceitos diferem na forma de encarar os movimentos circunstânciais do regionalismo cultural, da ciência especulativa, da fé cega e do sentimentalismo banal. Gostaria de dizer que tenho personagens geniais, mas não posso. Elas são sobreviventes, decorrentes de uma confusão concreta entre conhecimento e ignorância. Elas se atropelam nas palavras e nas idéias, mas se encontram nos ensaios sem pronúncia, no abismo da existência e no mistério da invenção. No entanto, devo dizer o que a mim compete: tenho personagens excepcionais, com sensibilidade suficiente para fazer qualquer um compreender que a vida é maravilhosa, cheia de efeitos especiais! Portanto, brindem à sorte! A sua! A nossa!

Com o pretensioso objetivo de cutucar cérebros e desfolhar pensamentos, o livro apresenta lacunas, permitindo que os leitores se infiltrem na história - seja através do drama, tragédia, comédia, ação ou terror - para preenchê-las, de forma que possam se constituir como leitores - criadores. Enfim, com doses moderadas de felicidade, tristeza, sarcasmo, deboche e atrevimento, eu me libero de qualquer compromisso, a partir de agora. Para vocês: Flores de Condão! Malva Maria.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Sonho de Maria

Meu sonho, no passado, era para o futuro. Nele havia uma casa branca, com janelas bem grandes pintadas de azul. A casa era tão grande que eu nem precisava chegar ao parapeito da janela para ver metade da terra e do céu que estavam à minha frente. A porta da sala ficava sempre aberta e nela começava um caminho que ia até o fim do mundo. Na frente da casa havia um jardim cercado de gerânios e atrás da casa tinha uma horta grande. Para as borboletas não havia divisas entre a casa, o jardim, a horta e o fim do mundo. Elas tinham asas coloridas como as flores.
 
Dentro da casa morava eu com minha família. Eu tinha quatro filhos: dois meninos e duas meninas, e um homem bom. Bom para todos e para mim também. A sala era bonita, nela meus filhos podiam brincar, depois de crescidos podiam namorar. E a gente proseava até não querer mais... Os quartos, onde meus filhos dormiam com cara de anjos, eram amplos, limpos e cheirosos; nem um pé de meia fora do lugar, só alguns brinquedos para me poupar de qualquer preocupação. No meu quarto, além dos móveis habituais e os lençóis de linho branco, havia uma cadeira de balanço linda e confortável que ganhei de presente do homem bom. Ele era zeloso comigo, me deu a cadeira para evitar dores nas costas quando eu tive que amamentar nosso primeiro filho; nela eu descansava meu corpo, aquietava minha mente, embalava o sono dos recém-nascidos e sonhava com a felicidade já adquirida. A dispensa, sempre cheia e organizada, era reservada; guardava de um tudo, inclusive umas varinhas de pescar e segredos de gente grande! A cozinha era quente e acolhedora, nela a gente sempre encontrava café pronto e qualquer um que chegasse, fosse dia ou noite, comia e bebia. Tínhamos uma mesa bem grande na varanda para acomodar grupos de ocasiões: família para rezar, comer e conversar; mulheres para costurar vestidos de festas, saborear biscoitos de polvilho, inventar novas receitas, sabotar a receita da vovó, fazer doces em tachos de cobre, confidenciar intimidades, dividir segredos e falar da vida dos outros; homens para tratar de negócios, comer lambaris fritos e outras delícias, tomar uma birita para driblar o frio e contar piadas indecentes. Na varanda da cozinha corria uma bica de água cristalina que vinha lá de cima das montanhas, de uma fonte que brotava entre duas pedras brancas. Na porta de entrada da varanda, nas horas vagas, dormia nosso cachorro (bom de caça) e mais dois gatos para dar conta dos ratos atrevidos. No terreiro da frente (próximo ao jardim), havia uma árvore frondosa e florida. Nos dias quentes de verão, ela abria sua saia de sombras para quem quisesse tirar uma pestana, jogar conversa fora, fazer carinho nos bichos, namorar ou ficar em silêncio, comungando a natureza. Seus galhos fortes sustentavam uma gangorra feita para gente grande e pequena, uma casinha de João de barro, um ninho de andorinhas. Às vezes, sua copa era usada como aeroporto para pousos emergentes ou como palco para shows de cantoria da passarada, nas tardes de outono. Depois da porteira que cercava o jardim, na colina em frente, ficava a capela construída para nosso santo de devoção. No sonho que morava em mim, havia escassez de lágrimas e excesso de gargalhadas. Abraços e beijos falavam mais que palavras. Mas, gritos também havia: gritos surpreendentes porque vovó e vovô chegaram com uma mala cheia de presentes e histórias, porque os pintinhos quebraram as cascas dos ovos e piavam no ninho, porque papai comprou mais um porquinho, porque a laranjeira amanheceu em flor, porque o cardápio de hoje é nosso prato preferido, porque alguém perdeu o primeiro dentinho... O homem bom e eu estávamos unidos até quando estávamos separados. Quando eu me ausentava, era só ele olhar para as meninas para ver minha presença espalhada nelas e eu, também via sua imagem espelhada nos movimentos, nas vozes e nas brincadeiras dos meninos. Nossa vida era calma, tranquila, saudável e completa. No meu sonho, eu era feliz!
Mas, meu sonho foi construído para ser vivido no futuro e quando cheguei lá, o futuro havia passado e o sonho, acabado. Melhor não ter pensado. Melhor não ter sonhado. Então, sem futuro e sem passado, só tive presentes

 

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Filmes


A bela da tarde
A dolce vida
A felicidade não se compra
  1. A festa de Babette
A gaiola das loucas
A liberdade é azul/A igualdade é branca/A fraternidade é vermelha
A lista de Schindler
A malvada
A noviça rebelde
A princesa e o plebeu
A um passo da eternidade
A viagem de Chihiro
A vida é bela
Amor, sublime amor
Anna e o Rei
Ardida como pimenta
Assim caminha a humanidade
Babe, o porqunho atrapalhado
Bagdá café
Banzé no oeste
Billy Elliot
Bonnie e Clyde - uma rajada de balas
Borat
Brilho eterno de uma mente sem lembramças
Butch e Cassidy
Camelos também choram
Capote
Casablanca
Cinema paradiso
Como água para chogolate
Conduzindo Miss Deisy
Deu a louca na Chapeuzinho
Deu a louca na Cinderela
Divinos segredos
Diários de motocicleta
E o vento levou...
Era uma vez no oeste
ET - o extraterrestre
Forrest Gump
Gata em teto de zinco quente
Guerra ao Horror- Oscar 2010
Henrique V
Invictus - indicado ao Oscar- -2010
Juventude transviada
Ladrões de bicicletas
Lanternas vermelhas
Laranja mecânica
Lavoura arcaica
Lawrence de Arábia
Luzes da cidade
Morango e chocolate
Morangos silvestres
My fair Lady
Nada é para sempre
No tempo das diligências
Noites de Cabíria
Nos que nos amávamos tanto
O desejo de Emma
O entardecer de uma estrela
O fabuloso destino de Amélie Poulain
O grande ditador
O incrível exército de Brancaleone
O jardim secreto
O jardineiro fiel
O mágico de oz
O pagador de promessas
O pecado mora ao lado
O poderoso chefão
O segredo de Brokeback Montain
O sol é para todos
O sétimo selo
O tempero da vida
O último tago em Paris
Os arruaceiros
Os bons companheiros
Os brutos também amam
Os canhões de Navarone
Os embalos de sábado à noite
Os intocáveis
Para WongFoo, obrigado por tudo!
Paradise Now
Paris, Texas
Perfume de mulher
Platoon
Procurando Nemo
Pão e tulipas
Ratos e Homens
Romeu e Julieta
Rádio
Sob o sol da Toscana
Sonhos
Tomates verdes fritos
Touro indomável
Tróia
Um amor para sempre
Um corpo que cai
Um sonho de liberdade
Um sonho possível - Oscar 2010
Vem dançar comigo